Quantas empresas você conhece que de fato aplicam as práticas pregadas pelo ESG? Pelo menos no Brasil, a prática não costuma bater com o discurso.

Quase metade das companhias de capital aberto brasileiras não adotam as recomendações do Código Brasileiro de Governança Corporativa, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Essas recomendações dizem respeito a sigla ESG que, em inglês, significa “enviromental, social and governance”. Na nossa língua mãe, fala sobre as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa.

Devemos observar que negócios que se comprometem com as melhores práticas de gestão acabam tendo uma operação mais sustentável em aspectos econômicos e na gestão de riscos. Inclusive esta é uma tendência em crescimento nos últimos anos.

Entenda a relação entre ESG e o mercado financeiro

Muitos investidores observam os critérios de sustentabilidade das empresas para ajudar na tomada de decisão de investir ou não naquele negócio.

É uma abordagem utilizada no mercado de capitais, que influencia na avaliação do comportamento das empresas, além de determinar seu desempenho financeiro futuro positivamente.

Um exemplo de índice de sustentabilidade é o ISE B3 (Índice de Sustentabilidade Empresarial), criado em 2005, que tem como seu principal objetivo demonstrar o desempenho de empresas listadas na B3 que atuam de forma responsável e sustentável.

Os stakeholders estão se envolvendo mais ativamente nas empresas de seus portfólios financeiros para reduzir a exposição aos riscos relacionados aos fatores ESG, devido a frequência de eventos do tipo tail risk, ou risco de cauda, observada nos últimos anos, como:

Atingindo padrões mais elevados dos fatores ESG, as práticas podem funcionar como um mecanismo de seguro contra estes tipos de eventos, que destroem valor nas empresas e também causam impactos na sociedade.

O capital vale mais do que a vida humana?

Recentemente, um caso de homicídio no Carrefour reaqueceu os debates sobre a pouca repercussão do ESG no âmbito do mercado financeiro.

Um homem negro foi vítima mortal de agressão, às vésperas do Dia da Consciência Negra. No dia seguinte, as ações do Carrefour chegaram a cair 2% no início do pregão do Ibovespa, mas logo se recuperaram, atingindo leve alta.

Neste caso, fica claro como o ESG funciona mais no papel do que na prática. Não se observa a necessária preocupação dos investidores com a postura da empresa em relação ao social.

Ainda que o percentual de empresas que não adotam práticas do ESG tenha diminuído em relação ao ano passado, o mercado brasileiro ainda tem muito a melhorar. A atual carteira do ISE B3, que vigora no período de 06 de janeiro de 2020 a 01 de janeiro de 2021, por exemplo, reúne ações de apenas 30 companhias.

“Apesar de constatarmos esse leve, mas importante, aumento na adoção de práticas recomendadas, ainda temos um longo caminho a ser trilhado”, afirma Pedro Melo, diretor-geral do IBGC. “Uma administração preparada é o que garante vantagem competitiva e longevidade para as corporações”.

O coronavírus e um novo olhar sobre o ESG

As companhias com boas práticas em ESG foram as que tiveram melhores resultados durante a crise do coronavírus este ano. Por acaso? Com certeza não.

A pandemia da covid-19 reforçou, e acelerou, a implementação de práticas sustentáveis nas empresas. E aqui, falamos também do foco no bem maior dos negócios, as pessoas. Observou-se uma maior preocupação de como as empresas tratam seus funcionários durante a pandemia.

“As pessoas vão se lembrar de como as empresas trataram os empregados e como se comportaram na comunidade”, afirma John Streur, diretor-presidente da Calvert Research and Management, unidade de investimento responsável da Eaton Vance – uma das maiores e mais antigas empresas de investimento dos Estados Unidos.

O relatório “Who care wins”, resultado de uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas, lá em 2005, concluiu que a incorporação dos fatores ESG no mercado financeiro gerava mercados mais sustentáveis e melhores resultados também para a sociedade.

Mas como tirar os ideais do papel?

  1. Para começar, contratar especialistas em ESG, ou criar departamentos dedicados ao tema, ajuda bastante. Mas também é necessário que a empresa incorpore essas práticas à sua cultura. As áreas de sustentabilidade corporativa tendem a dar mais certo quando possuem alguém com visão estratégica e capacidade de criar cultura na empresa.
  2. Incorpore os princípios do ESG na estratégia de toda a organização. Pense como estimular essa mudança entre todos: executivos, conselheiros e acionistas. Incentive os funcionários a fazerem seu trabalho com o olhar da sustentabilidade.
  3. Todo líder precisa ter uma mentalidade sustentável. Pense além dos negócios: como minha empresa pode impactar positivamente a comunidade onde atua, além de clientes e funcionários?
  4. Seja transparente. Mostre que sua empresa tem uma preocupação legítima com o ESG, e que suas práticas são concretas. Fale até sobre suas dificuldades e falhas, mas não deixe espaço para a desconfiança!
  5. E lembre-se: os critérios de ESG que você adotar podem influenciar as pessoas na hora da decisão da compra. Faça com que seus ideais sejam notados pelos seus clientes.

Quando você enxerga o potencial e grandiosidade da sustentabilidade, sua empresa se torna uma força para um bem maior e também aumentam suas chances de prosperar no mercado. Sem dúvidas, negócios sustentáveis ​​são bons negócios.

O caminho está trilhado, é hora da construção!

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