Contar histórias pode parecer algo simples. No entanto, é uma das mais avançadas e utilizadas das tecnologias, quando o objetivo é transmitir a cultura de uma comunidade ou de um movimento. Por isso, hoje, vou contar a história da comunidade de empreendedorismo e startups no Brasil a partir do meu olhar e experiências.

Por muitos anos, atuei como radialista e ao observar e sentir as transformações do mercado de Rádio e TV, com o crescimento da internet e redes sociais, criei em 2004 o VideoLog – 1° portal de vídeos online do mundo. Essa experiência me abriu um universo de possibilidades e conexões, para trabalhar com o ecossistema de inovação e startups do Brasil, seja com desenvolvimento de negócios, treinamentos, mentoria, palestras ou curadoria. Mas preciso dizer que a raiz do meu ativismo empreendedor nasceu mesmo nas relações com a minha comunidade familiar: a favela.

Nascimento da Comunidade de Startups no Brasil

Em 2011, os representantes das principais startups do Brasil participavam de uma missão para o Vale do Silício. Nem todo mundo se conhecia tão bem e decidimos organizar um meetup para todos os brasileiros. O ponto de encontro foi o parque que fica ao lado do Golden Gate, em São Francisco. Uma tarde de sábado, vários grupinhos independentes espalhados e algumas pessoas que viajavam sozinhas ficavam isoladas, sem saber o que fazer. Foi quando o Felipe Matos, founder da Startup Farm, e algumas outras pessoas, identificaram esse problema e formaram uma roda para tomar alguma providência. A decisão tomada pelo grupo foi “começar a fazer uma bagunça para chamar atenção”, ou seja, dar uma “favelizada”. Assim, os Brasileiros iriam se juntar. E eu, que falava muito pouco de inglês, passei grande parte da viagem tirando um sarro disso e inventei um sambinha que era mais ou menos assim…


Entreprenê, Entreprenê, let’s go to São Francisco, meet some VCs..

– Sambinha do Mack

A missão de juntar a galera foi cumprida e ainda deixamos aquele dia bem brasileiro. Pode parecer bobagem mas, na minha visão, aquela foi a faísca de conexão do início de todo ecossistema de inovação no Brasil. Olha a loucura, pensar que algo tão simples como uma bagunça no parque e uma música, foi a estratégia que uniu quase todas as pessoas que hoje movimentam nossa comunidade de startups. Por este e outros momento, que a ideia de “ser simples para ser incrível”, é algo que me fascina.

A favela onde eu nasci

Como disse, eu nasci e cresci em uma favela do Rio de Janeiro conhecida como 48, localizada em Bangu. Na década de 50, a Fábrica Bangu de tecidos foi uma das maiores indústrias do Brasil. Eles exportavam para todo o mundo e atraíam mão de obra em todo o país. Bangu era uma região em franco crescimento, meus pais e tios vieram em busca de trabalho, como foi feito por milhares de pessoas e, já podem imaginar que nem todo mundo conseguiu um emprego na fábrica e, sem grana pra ir pra outro lugar, se organizaram em comunidades no bairro.

Como disse, eu nasci e cresci em uma favela do Rio de Janeiro conhecida como 48, localizada em Bangu. Na década de 50, a Fábrica Bangu de tecidos foi uma das maiores indústrias do Brasil. Eles exportavam para todo o mundo e atraíam mão de obra em todo o país. Bangu era uma região em franco crescimento, meus pais e tios vieram em busca de trabalho, como foi feito por milhares de pessoas e, já podem imaginar que nem todo mundo conseguiu um emprego na fábrica e, sem grana pra ir pra outro lugar, se organizaram em comunidades no bairro.

Quando a única saída é empreender

Meus pais abriram um bar, na frente de nossa casa, uma espécie de MVP do que grandes corporações fazem hoje e chamam de espaço de inovação. Estes locais são primordiais para a existência de toda e qualquer comunidade pois geram densidade. Lá se aglomeram pessoas de todos os tipos para consumir da mesma fonte de “conhecimento”. São ambientes livres para você liberar sua criatividade. Afinal, Não existe lugar mais inovador que um boteco, não é mesmo?

Mas, além de nutrir a criatividade de seus “membros”, estes estabelecimentos desenvolveram uma poderosa criptomoeda baseada em confiança chamada Fiado

Vamos imaginar agora que uma família é uma startup, e quando começa a faltar recursos como arroz, feijão, leite… é a hora que estes espaços de inovação alavancam o mercado concedendo investimento “anjo” baseado nesta criptomoeda chamada de “ Fiado”.

Demorei muito tempo para entender o poder dessa comunidade chamada favela que, ou encontra nos problemas as soluções ou continua sendo esmagados pela desigualdade social que impera em nosso país.
Passei grande parte da minha vida odiando o fato de viver em um destes ambientes de inovação, no entanto, teve um momento que eu precisei de mentoria e advinha onde encontrei bons mentores? Na igreja, isso mesmo, toda comunidade tem uma igreja e era lá onde eu me encontrava, me sentia protegido e que sempre tinha lanche para quem ajudava. Certo dia, cansado das atividades de “ coroinha”, vi um grupo de jovens deitados e perguntei o que estavam fazendo. Eles eram do grupo de Teatro da Igreja e estavam meditando para entrar no personagem. Eu que não sou bobo nem nada, na hora, pedi para participar do grupo. Sem falar que o Padre daquela igreja era muito revolucionário, um dos diretores do grupo de teatro era judeu e, aos poucos, fui percebendo que cada um estava ali por um propósito diferente. O grupo era tão legal que tinham pessoas que nem frequentavam a igreja.

3 ensinamentos fundamentais

Como podem ver, as favelas são ecossistemas vivos e têm muito mais em comum com as comunidades empreendedoras do que podemos imaginar. Aliás, a imaginação é outra importante ferramenta que os empreendedores precisam usar diariamente. Certa vez o meu mestre palhaço Marcio Libar me disse “nunca serás quem tu não és”, ou seja, se eu não pudesse imaginar que um dia teria o prestígio que tenho hoje, eu nunca o teria. Logo, se você é capaz de imaginar, você é capaz de fazer qualquer coisa.

E para fechar essa reflexão, compartilho com vocês três coisas que me ajudaram a transcender os estigmas do favelado para chegar onde estou e o link para assistir ao meu TEDx, que me inspirou a contar essa história para vocês:

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