De acordo com um estudo do Instituto Feira Preta, 29% dos negros têm um negócio próprio no Brasil. Porém, a grande maioria trabalha informalmente: 82% deles não têm CNPJ. Os números também são preocupantes quando começamos a falar no acesso ao crédito e apoio no planejamento e gestão do negócio, já que 32% tiveram crédito negado sem explicação em algum momento da sua carreira. A pesquisa ainda apontou que, mesmo movimentando mais de R$ 200 bilhões por ano, o empreendedorismo negro recebe 40% menos que o branco por seu trabalho.
A falta de diversidade, no entanto, não é um problema exclusivo do Brasil. Uma pesquisa da RateMyInvestor com a Diversity VC descobriu que apenas 1% dos fundadores das mais de 4.400 startups americanas pesquisadas são negros. Ademais, segundo o Silicon Valley Bank, somente 1% do valor aplicado por fundos de investimento nos EUA era destinado a startups fundadas por pessoas negras.
Em 2020, a pandemia da Covid-19 piorou ainda mais esses números. De acordo com um levantamento do Sebrae,
empreendedores pretos e pardos foram mais prejudicados pela crise econômica. Enquanto 15% dos empreendedores brancos estavam com suas empresas fechadas ou interrompidas na última semana de setembro, 18% dos negócios de pessoas negras estavam na mesma situação.
A seguir, vamos analisar estes números com mais detalhes e apontar algumas ações que estão sendo feitas no Brasil e no mundo para desenvolver o empreendedorismo negro.
Os números do empreendedorismo negro no Brasil em 2020
O empreendedorismo é um caminho para todos mudarem sua realidade. Em especial, para os negros. Nós temos a ideia, corremos atrás para fazer acontecer, mas enfrentamos dificuldades inerentes a nossa cor: somos vistos com desconfiança.
Mesmo assim, conseguimos abrir nossas empresas e mantê-las diante de tantos empecilhos. Ainda que não acreditem no nosso potencial, lutamos e provamos não só para outros, mas principalmente para nós mesmos, que somos capazes.
Negros estão à frente de 51% das empresas no Brasil. Mais de 5,8 milhões de brasileiros negros são empreendedores, e eles movimentam em torno de R$ 219,3 bilhões por ano. Os números foram levantados pelo Instituto Locomotiva com informações do IBGE.
Porém, como apontamos acima, empreendedores pretos e pardos sofreram mais com a pandemia do que os brancos. Números do Sebrae mostram que 76% relataram diminuição do faturamento em comparação com 73% dos brancos. Além disso, 46% sentem dificuldades para manter o negócio, 36% estão com dívidas em atraso e apenas 12% conseguiram crédito em banco. Para os brancos, as porcentagens são, respectivamente, 41%, 27% e 18%.
Este ano ainda acentuou mais outras desigualdades entre o empreendedorismo negro e branco. Em uma pesquisa com 7586 empreendedores de todo o Brasil, o Sebrae e a Fundação Getúlio Vargas descobriram que:
- A proporção de empreendedores negros que tentaram crédito em banco e foram aprovados entre a segunda quinzena de maio e o final de agosto passou de 5% para 8%. Para brancos, a porcentagem subiu de 7% para 14%.
- Os negócios brancos que buscaram empréstimo em banco durante a pandemia passou de 30% (maio) para 51% (agosto). Porém, apenas 17% dos que procuraram até maio conseguiram; até agosto, o número subiu para 27%.
- Para os negros, a proporção passou de 38% em maio para 50% em agosto. No entanto, 14% daqueles que procuraram até maio conseguiram empréstimo. Dos que procuraram até agosto, 16% conseguiram.
- De modo geral, 65% dos empreendedores negros que solicitaram empréstimos em bancos tiveram o crédito negado em agosto, em comparação com 58% dos brancos.
Desenvolver o empreendedorismo negro é uma questão de educação e investimento
Como já falei algumas vezes, acredito que existam três principais motivos para a proporção de empreendedores negros e brancos ser tão desigual:
- A origem: grande parte da população preta e parda vem de classes econômicas mais baixas.
- Acesso à educação: por consequência das condições de vida, essas pessoas também têm menos acesso à educação.
- Necessidade financeira: por conta das duas questões acima, muitas vezes, as pessoas são levadas aos negócios de subsistência ou de prestação de serviços para poder viver.
Na minha opinião, só existe uma forma de mudar essa situação: educação. Mais especificamente, com investimento em uma educação mais igualitária. Como declarei ao jornal baiano Correio 24 Horas:
“Hoje, o empreendedor, no geral, é pouco qualificado. Em realidade, muitas vezes o empreendedor precisa tomar uma decisão, porque o foco é desenvolver um negócio que irá garantir sua própria subsistência e esse é o ponto que impede com que eles se desenvolvam e desenvolvam negócios de qualidade.”
Já existem alguns programas e projetos de capacitação que buscam desenvolver o empreendedorismo negro no Brasil, dando mais oportunidades para essa parcela da população desenvolver suas ideias. Abaixo, mencionamos algumas destas iniciativas:
- AFROLAB: desde 2018, é um programa de apoio, promoção e impulsionamento do afro empreendedorismo. Com foco em inovação, inventividade e autoconhecimento, o Afrolab oferece capacitação técnica e criativa desde a idealização do negócio até o escoamento final dos produtos e serviços desenvolvidos.
- ÉDITODOS: aliança de organizações que, desde 2017, atua a fim de apoiar as experiências de empreendedores e empresas que têm como objetivo trazer inovação para produtos e serviços voltados para o consumo da população negra e não negra.
- Programa de mentoria para empreendedores negros da Nestlé Brasil: em 2020, a companhia criou o programa tendo como objetivo estimular oportunidades de desenvolvimento e promover a inclusão de colaboradores pretos e pardos.
- Trainee Magazine Luiza 2021: a companhia teve a iniciativa pioneira de abrir vagas exclusivas para brasileiros negros em seu programa de trainees para o ano que vem.
Apesar das desigualdades ainda serem grandes, é importante destacar como iniciativas focadas no empreendedorismo negro no Brasil devem ser cada vez mais populares. Afinal, a população brasileira é mais de 50% negra segundo o IBGE, então, o mundo dos negócios precisa refletir essa diversidade.
Tem um pensamento que eu sempre carrego comigo: nunca se limite pelo o que os outros falam sobre você. E foi esse pensamento, junto a minha indignação, a minha disciplina e a curiosidade para saber como são as coisas de verdade, que me fez chegar até aqui. Este local onde eu tenho voz. E conquistar tudo que conquistei.
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